


A Materiais Diversos é uma estrutura artística independente, sediada em Alcanena, com atuação nacional e internacional. Desenvolve um programa plural e descentralizado nas artes performativas, com foco na dança contemporânea, afirmando-se como um projeto vivo, inclusivo e dinâmico, capaz de enfrentar os desafios contemporâneos. Sustenta-se em relações duradouras e momentos essenciais de convivência, que alimentam a sua nova abordagem.
A Materiais Diversos é um espaço de programação comprometido com a transformação, concretizada ao longo do ano e potenciada pelo festival materiais diversos, realizado desde 2009, e agora em formato bienal e que durante cerca de 10 dias percorre diferentes espaços entre Minde e Alcanena. Produz e acompanha projetos artísticos que circulam dentro e fora do país e apoia artistas em diferentes fases dos seus percursos, desde a pesquisa até à apresentação. Pode ser pensada como uma casa-laboratório — um lugar de experimentação, cuidado, produção e partilha.
A estrutura assenta num ecossistema territorial e relacional que integra espaços em Minde, Alcanena e Lisboa, acolhendo processos criativos, residências, apresentações e atividades. Reposiciona-se como uma estrutura de resiliência artística para obras de pequena e média escala, apoiando artistas com percursos estabelecidos ou em consolidação e afirmando plenamente as suas identidades. Fomenta formatos híbridos, mediação e transmissão, criando uma comunidade enraizada no cuidado e na experimentação. Aposta na centralidade do corpo e na construção de um corpo coletivo como força social e política. Com uma abordagem colaborativa e feminista, coloca artistas no centro do projeto, em diálogo com uma comunidade vibrante.
Desde 2025, com escritório no MERCADO de Minde e um novo espaço em Alcanena — o SINDICATO —, organiza-se em três eixos principais:
— MATERIAIS DIVERSOS • apresenta — com o festival materiais diversos (anos ímpares) e o fim-de-semana Materiais Adversos (anos pares).
— MATERIAIS DIVERSOS • cria — apoiando a criação, produção e difusão de projetos artísticos contemporâneos, designados Projetos Associados.
— MATERIAIS DIVERSOS • acompanha — desenvolvendo atividades que aproximam obras, artistas e comunidades, gerando espaços de encontro e participação.
Em 1975, João César Monteiro, singular cineasta, realizou “Que farei eu com esta espada?”, documentário com inserções ficcionais, que alude às resistências externas que a Revolução dos Cravos colheu nos primeiros anos. Numa cena do filme, centenas de homens gritam pela “independência nacional” face a um navio da NATO ancorado no Tejo; noutra cena, uma mulher vestida de guerreiro medieval empunha a dita espada (era a realizadora Margarida Gil, embora não apareça creditada). O filme não avança com respostas, muito menos incita à guerra, mas o seu ambiente sombrio questiona-nos sobre a fragilidade das conquistas daquela “manhã clara e limpa” de 25 de abril de 1974.
Passaram pouco mais de 50 anos e as conquistas foram muitas, assim como no presente se multiplicam resistentes sombras, da porta das nossas casas às instituições, que considerávamos intocáveis. Foi nos 50 anos do 25 de abril que se inspirou o Festival Materiais Diversos 2025, não para comemorar, mas tendo em vista um compromisso com o futuro. O que queremos perspetivar para os próximos 50 anos de democracia? Que faremos nós com a espada que nos foi oferecida?
Sem pretensões didáticas, mas com a responsabilidade cívica que lhe cabe enquanto organização cultural, o Festival Materiais Diversos continua a afirmar-se como espaço de encontro, entre pessoas diferentes e com as artes. Ambiciona suspender o tempo (das sombras) e oferecer um contexto que possa nutrir a curiosidade, o debate e a imaginação. Valoriza os espaços públicos como arena destes encontros e a multiplicidade de vozes que devem compor a pluralidade democrática.
Às ideias de democracia e de futuro, acrescentou-se as noções de conectividade e de movimento. Assim, este ano, o festival pretende ser um conector, tornando acessíveis uma diversidade de conhecimentos, estórias e vozes menos visíveis e convidando a comunidade de espectadores a praticar a livre circulação de ideias e a responsabilizar-se enquanto elo numa cadeia que ligue memórias, conhecimentos e possibilidades. Ligando passado, presente e futuro, espera-se contribuir para preservar e enriquecer o debate público, a pluralidade e, portanto, a democracia.
Diretora Artística,
Materiais Diversos,
fevereiro 2015 — março 2025
Num ecossistema vivo e em constante mudança do território que habitamos — físico, simbólico, emocional — o festival materiais diversos entra numa edição de transição, entre o que foi, o que é e o que poderá ainda tornar-se. Aqui, o tempo não se desenha em linha reta. Move-se em espiral, ritmado pelos corpos, pelas estações e pela escuta. É um tempo sensível, que pulsa ao ritmo da terra e das pessoas que a habitam.
Esta edição convida-nos a olhar o passado como herança, o presente como prática ativa de cuidado e desejo, e o futuro como um espaço aberto à reinvenção. Há uma atenção renovada ao que deve ser preservado, ao que pode ser reciclado e ao que já não nos serve — sem medo de deixar partir, sem receio de recomeçar.
Esta é a primeira edição sob a minha direção artística, ainda ancorada num programa concebido por Elisabete Paiva, a quem deixo o meu profundo agradecimento. É neste gesto de continuidade e transição que abrimos um novo ciclo — com vontade de radicalizar, suavemente. Cabe-me agora honrar este programa, oferecendo-lhe um novo rosto e um desejo renovado, entrelaçando-o com o projeto mais alargado da Materiais Diversos. Um projeto que reflete sobre os temas que atravessam e moldam a sociedade contemporânea, através de um gesto de presença, desafiando paradigmas políticos e sociais, convocando experiências partilhadas que operam como dispositivos de pensamento e transformação.
Guardamos a herança da proximidade, da escuta atenta ao território, das parcerias fundadas no afeto e na resistência. Preservamos a alegria da celebração comunitária, a força de uma programação comprometida, a radicalidade descentralizadora e os discursos que interrogam o agora — conectando artistas e públicos num espaço de acolhimento e ressonância. Há uma intenção clara de ocupar o corpo como território político e agregador — fundamento das práticas contemporâneas de dança — para aceder ao coletivo, à sua potência transformadora e à força unificadora.
Tomar posição é o eixo central do meu projeto artístico: situar o festival nos contextos local e nacional, ao mesmo tempo que se afirma a sua missão numa perspectiva internacional, conectando práticas e imaginários, modos de fazer e modos de existir. Combinando sustentabilidade e adaptabilidade, o festival materiais diversos é um organismo vivo, inclusivo e dinâmico, capaz de enfrentar os desafios do presente com uma comunidade vibrante, motivada por momentos essenciais de convivência, pensamento e ação.
Transformamos a ideia de programação de uma linha reta numa constelação. Criamos espaço para o invisível, o inacabado, o em progresso. Este festival cultiva espaço para o que ainda não tem nome. Aqui coexistem camadas, tensões e afetos. Alimenta a imaginação radical de um festival sem um único centro — porque tem muitos!
Apesar de todas as incertezas que enfrentamos, estamos aqui! Venham, conversem, pensem. Imaginem o futuro connosco.
Diretora Artística,
Materiais Diversos
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Joana Brandão
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